sábado, 17 de maio de 2008

Ordem e Progresso



Aos que têm o hábito de assistir TV sem se comover com sensacionalismos, certamente está farto de ouvir notícias sobre o “Caso Isabela”; aliás, sobre “O Caso Isabela”, afinal, não se trata de qualquer caso, não é mesmo?

Não pretendo desconsiderar a crueldade do acontecimento. De fato, a notícia de que uma criança de 5 anos foi asfixiada e arremessada do 6º andar e os principais suspeitos são o pai e a madrasta gera espanto e incompreensão. Entretanto, considerando que casos semelhantes acontecem cotidianamente, e que se trata de um fato particular, em que as famílias envolvidas são as únicas realmente prejudicadas com o ocorrido, lhe pergunto o por que de tanta comoção social. E as injustiças coletivas, em que o direito de toda uma população é violado? Onde estão, nestes momentos, a fúria e a disposição para ir às ruas gritar por justiça?

Tentemos nos recordar de outro caso repulsivo, com conseqüências e significações coletivas, em que uma das partes envolvidas representava o Estado. Falo do massacre do Complexo do Alemão ocorrido no ano passado. Quais eram mesmo os nomes dos mais de 20 mortos nesta chacina? O corpo da foto era de uma criança. Qual era mesmo o nome dela? Que idade tinha? Será o menino de 13 anos, um dos três adolescentes incluídos nos 19 mortos em um dia, coletivamente catalogados pela polícia e por uma parte da imprensa como “bandidos”?

Vale lembrar que a quase totalidade das mortes se tratou de execuções sumárias, e a ação foi planejada pela Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, que contou com 1300 policiais militares e membros da Força Nacional de Segurança. Mas, me parece que o importante é que a ordem seja mantida, e apenas casos como “O de Isabela” ferem a esta normalidade, merecendo assim, tanta indignação e visibilidade.

Um comentário:

Camila Bravim Silveira disse...

ótimo texto!
é sempre bom refletir sobre as hipocrisias humanas e burguesas
é sempre bom refletir sobre a manipulação da mídia, que sempre vai veicular o que lhe interessa, e é claro, o que VENDE MELHOR!