"Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos, só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras, A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte."
Pelo que lembro, a ultima vez que senti tal nó nagarganta com o primeiro parágrafo de um livro foi com "'Agua-viva", da Clarice. Vai ser uma grande jornada esse "Terra Sonâmbula", do Mia Couto.
domingo, 25 de abril de 2010
domingo, 18 de abril de 2010
Dize-me quem escalas e te direi quem és
Achei esse texto no Blog do Torero, que considero um excelente escritor (apesar de só ter lido os textos de seu blog, rs), gostei tanto que quero compartilhar aqui, apesar de na maioria ninguem gostar de textos grandes. O Torero é considerado um cronista esportivo, mas na verdade, vai além disso. A analogia da seleção brasileira d efutebol com uma seleção literária é genial. Vale resaltar que o autor mesmo explicou que, no texto original, Clarice estava no lugar do Pa. Antônio Vieira, e considero a substituição imperdoável.
A seleção de cada torcedor funciona como uma espécie de espelho. Assim, se ele escolhe um meio-campo formado por Dunga, Galeano, Mauro Silva e César Sampaio, fica evidente que se trata de um precavido, talvez até de um covarde. Por outro lado, se propõe um ataque com Rivaldo, Ronaldinho e Romário, estamos na frente de um ousado, de um destemido. Se a linha é Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, falamos com um saudosista, e se a defesa conta com Carlos Alberto, Figueroa, Domingos da Guia e Nílton Santos, estamos ao lado de um amante dos clássicos.
Convencido de que escalar uma seleção seria a forma ideal de me apresentar ao leitor, pus o cérebro para trabalhar e escolhi meus onze jogadores preferidos:
Goleiro: Drummond. Um grande time começa por um grande goleiro. Drummond nasceu em Itabira, mas atuou longo tempo no Rio de Janeiro. Ele traz segurança e tranqüilidade para o resto da equipe. É elástico e seguro, dono de um estilo que marcou época e fez seguidores.
Lateral direito: Bandeira. O pernambucano merece a posição apesar dos problemas respiratórios. Lateral direito de inegável leveza, caracteriza-se por criar jogadas aparentemente simples, mas que só parecem tão simples porque ele faz um complexo trabalho para descomplicá-las.
Zagueiro central: Érico. Central tem que ser gaúcho. Érico, além de ter nascido em Cruz Alta, é um beque polivalente: joga com qualquer tempo e vento. Pode atuar com aspereza e rudeza, ou sair jogando com maleabilidade e graça. Assim como outro central, Domingos da Guia, também possui um filho de inegável talento.
Quarto zagueiro: Nelson Rodrigues. Essa é uma posição onde é proibido ter falsos pudores; tem que se chutar a bola para a arquibancada e, se preciso for, deixar o inimigo estatelado no chão com fratura exposta. É o caso de Rodrigues, um jogador de moral polêmica. Alguns críticos mais ácidos dizem que ele cai muito pela direita, mas trata-se de um defeito menor que suas qualidades.
Lateral-esquerdo: Vieira. Começou a carreira timidamente, mas um dia teve um estalo e passou a jogar como que inspirado pela luz divina. Seu estilo é lógico, mas também grandiloqüente. Às vezes traça caminhos tortuosos, mas sempre chega ao seu objetivo. De todos os convocados é o único Atleta de Cristo.
Médio volante: Gregório. Um bom cabeça-de-área tem que saber xingar a mãe do adversário de doze formas diferentes. Gregório conhece 118. Não é à toa que o apelidaram de Boca do Inferno. Perguntado sobre as violentas faltas que comete, diz que são para a glória de Deus, pois, “quanto maior o meu pecar, maior a graça d’Ele em perdoar”. Não raro, elabora firulas e gongorismos que surpreendem a torcida.
Meia-direita: Mário. Um ponta-de-lança tem que ser ao mesmo tempo clássico e inovador. Mário consegue as duas coisas: sabe estudar o jogo e inventar lances com a mesma competência. Pode-se dizer que é um clássico de vanguarda.
Meia-esquerda: Machado. A nobre camisa dez não poderia ser vestida por outro. Excelente nos lançamentos em profundidade, é um especialista nos dribles sutis e no toque refinado. Estranhamente, está sempre com um riso nos lábios. Não se sabe, contudo, se ri dos inimigos, de si mesmo ou do público.
Ponta-direita: Guimarães. É um inventor. Guimarães cria dribles e ziguezagueia pelos campos gerais como ninguém. Seus lances são inesperados, como se ele sempre tivesse que criar um caminho pró¬prio. Aprendeu tudo que sabe na várzea, mas seu jogo é universal.
Centroavante: Amado. O jogador baiano é adorado pela torcida, mas um tanto desprezado pela crítica esportiva. Porém, é inegável que sabe prender como poucos a atenção dos zagueiros e do público. O excesso de acarajé compromete um pouco a sua forma. Começou a jogar na praia, onde ficou conhecido como o capitão da areia.
Ponta-esquerda: Graciliano. Vindo de Quebrângulo, Alagoas, este extrema-esquerda é dono de um estilo duro, sisudo e seco. O torcedor sempre pode esperar dele um jogo consistente e seguro. Odeia concentrações e pretende escrever um livro de memórias condenando essa prática.
Obs.: Obviamente esta seleção de imortais conta apenas com jogadores defuntos, o que deixou de fora vá¬rios nomes. Em meu banco de reservas estão Verissimo, Ubaldo, Millôr e Fonseca. São grandes atletas, mas desconfio que não têm muita pressa em entrar nesse time.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Tempo Ruim
Ergam seus copos por quem vai partir
Longo será o caminho a seguir
Nada será como costuma ser
Nada vai ser fácil pra você
Não faça o mesmo que fez o seu pai
Não leve armas lá onde vai
Tantos eu já vi pagando pra ver
Não dá tempo de se arrepender
Nada que já não deva saber
Não há nada que não possa ter
Quero que a estrada venha sempre até você
E que o vento esteja sempre a seu favor
Quero que haja sempre uma cerveja em sua mão
E que esteja ao seu lado, seu grande amor
Eu me despeço de todos vocês
Muitos aqui não verei outra vez
Fora o inverno e o tempo ruim
Eu não sei o que espera por mim
Mas pouco importa o que venha a ser
Se eu tiver um dia a quem dizer
Quero que a estrada venha sempre até você
E que o vento esteja sempre a seu favor
Quero que haja sempre uma cerveja em sua mão
E que esteja ao seu lado, seu grande amor.
(acreditem, é do Matanza!)
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Pobre Meu Pai
Quanto punhos espalhados no ar
Oito olhos vigiando o quintal
E o meu coração de vidro
Se quebrou
Doido meu pai
Sete bocas mastigando o jantar
Sete loucos entre o bem e o mal
E o meu coração de vidro
Não parou de andar
Pobre meu pai
A marca no meu rosto
É do seu beijo fatal
O que eu levo no bolso
Você não sabe mais
E eu posso dormir tranquilo
Amanhã, quem sabe?
Hoje, meu pai
Não é uma questão de ordem ou de moral
Eu sei que posso até brincar
O meu carnaval
Mas meu coração é outro
Simples, meu pai
Faça um samba em quanto o bicho não vem
Saia um pouco, ligue o radio, meu bem
Não ligue, que a morte é certa
Não chore, que a morte é certa
Não brigue, que a morte é certa
Oito olhos vigiando o quintal
E o meu coração de vidro
Se quebrou
Doido meu pai
Sete bocas mastigando o jantar
Sete loucos entre o bem e o mal
E o meu coração de vidro
Não parou de andar
Pobre meu pai
A marca no meu rosto
É do seu beijo fatal
O que eu levo no bolso
Você não sabe mais
E eu posso dormir tranquilo
Amanhã, quem sabe?
Hoje, meu pai
Não é uma questão de ordem ou de moral
Eu sei que posso até brincar
O meu carnaval
Mas meu coração é outro
Simples, meu pai
Faça um samba em quanto o bicho não vem
Saia um pouco, ligue o radio, meu bem
Não ligue, que a morte é certa
Não chore, que a morte é certa
Não brigue, que a morte é certa
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