A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?
E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?
Carlos Drummond de Andrade
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
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3 comentários:
E agora Maria?
A formatura chegou
O emprego não veio
A viagem não veio
A casa não veio
O dinheiro não veio
Se você morresse
Mas você não morre Maria (ainda bem, rs)
Você é dura (ainda bem)
E depois dessa
A carapaças só endurece.
e se encaixa perfeitamente querida amiga!
e agora maria?
tudo bem.... há alguns anos eu já imaginava que esta pergunta surgiria:
você marcha, José !
José, pra onde ?
Mas achava que a dúvida viria pela variedade de opções!
Antes de ver quem tinha postado esse poema já soube, era Patrícia, uma boa apreciadora de Drummond!
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