O Triunfo da Morte - Peter Brueghel
Uma pessoa que conhecia partiu, deixou seu corpo, mas a lembranças estarão em mim. E apesar da morte ser minha única certeza, por mais sabido, a ignoramos e ela vêm e novamente me passa uma rasteira.
Como encarar a morte.
Carlos Drummond de Andrade
De longe
Quatro bem-te-vis levam nos bicoso batel de ouro e lápis-lazúli, e pousando-o sobre uma acácia cantam o canto costumeiro. O barco lá fica banhado de brisa aveludada, açúcar, e os bem-te-vis, já esquecidos de perpassar, dormem no espaço.
À meia distância
Claridade infusa na sombra, treva implícita na claridade?Quem ousa dizer o que viu, se não viu a não ser em sonho?Mas insones tornamos a vê-lo e um vago arrepio vara a mais íntima pele do homem. A superfície jaz tranquila.
De lado
Sente-se já, não a figura, passos na areia, pés incertos, avançando e deixando verum certo cógifo de sandálias. Salvo rosto ou contorno explícito, como saber que nos procura o viajante sem identidade?Algum ponto em nós se recusa.
De dentro
Agora não se esconde mais. Apresenta-se, corpo inteiro, se merece nome de corpo o gás de um estado indefinível. Seu interior mostra-se aberto. Promete riquezas, prêmios,mas eis que falta curiosidade, e todo ferrão de desejo.
Sem vista
Singular, sentir não sentindo ou sentimento inexpresso de si mesmo, em vaso coberto de resina e lótus e sons. Nem viajar nem estar quedo em lugar algum do mundo, só o não saber que afinal se sabe e, mais sabido, mais se ignora.
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