domingo, 27 de abril de 2008

RECOMEÇO

Recomeçar é sempre um grande passo

Porque é difícil esquecer o passado

Os momentos bons que foram vividos

É difícil se desapegar das coisas, das pessoas

Devido a essa nostalgias esquecemos de viver o presente

E aproveitar os momentos que estão sendo vividos

O passado parece sempre melhor que o presente

O que torna o recomeço difícil

O eu é esquecido o outro parece sempre melhor e mais importante

A vida parece sem graça, uma desgraça

Onde nada é bom o suficiente,nada é melhor do que o que se foi

Sendo que o que se foi, realmente deveria ter ido

Mas parece entranhar-se na sua alma, no seu corpo

O presente esquecido se torna enfadonho

E os momentos bons que a vida lhe oferece parecem inoportunos

E quando o passado já não se fizer mais tão presente

Finalmente poderei dizer esse é o meu recomeço

Autoria própria.

sábado, 26 de abril de 2008

Abram Alas pro Morro

Engraçado como alguns desconfortos são prazerosos.
A subida da ladeira me fazia ofegar e ainda assim a sensação era de prazer. De todos os morros que já subi, este foi o primeiro em que fiquei a beira mar.
O café a que nos dirigíamos era francês.
Instantes após a chegada visualizamos o apagar das luzes do convento abençoando a libertação dos prazeres profanos.
Ainda não estava embriagada, mas era como se estivesse. Meu corpo se movia com a dança sem qualquer esforço nem acanho. A música era ótima, o espaço agradável e todas as sensações estavam à flor da pele.
Sabia que não era bem-vinda por todos. Alguns olhares me mostravam isso a todo o momento. Ainda assim, me sentia em casa. Tudo ali, até mesmo estes olhares, me interessava. Atrás do balcão se encontrava a francesa, que por se tratar de um ser andrógino, atraía até mesmo mulheres heterossexuais. Junto dela, estava um japonês-índio. Nunca havia conhecido pessoas com essa miscigenação, e confesso que se me contassem, duvidaria da possibilidade de se tratar de uma pessoa interessante.
O elemento negro se encontrava em quase tudo e todos. O gingado, a música, os sorrisos, a pele, os dentes. As horas passavam e o café, moído na hora, nos mantinha acordados e vivos.
Chegou um momento em que dançava e cantava olhando dentro de olhos tão queridos, de amigos tão amados, e tinha a absoluta certeza de que a minha sensação era comum àquelas pessoas. O lugar foi se esvaziando, o domingo clareando. Era hora de descer a ladeira, pois a missa dominical estava prestes a começar.


O Morro Não Tem Vez (Tom Jobim) com Afonso Abreu Trio - Afonso Abreu ao contrabaixo, Pedro Alcântara ao piano, Marco Antônio Grijó à bateria e Melão à percussão.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Café Russo: a crônica.

Nesta manhã cheia de possibilidades me afogo e embriago no copo de café para me manter acordado, precisava levantar minhas pálpebras, dilatar minha pupila e conectar meus neurônios. Já se foram sete copos, sem açúcar. Naquela semana, para piorar minha saga neste mundo torpe, havia perdido meus óculos, o segundo em dois anos, não me pergunte onde, se soubesse estaria vestida de meus olhos, mas não sei, há algo no meio do caminho que não recordo.

A preguiça e a falta de sentido ocular me embriagavam mais. Não sabia bem o que tinha acontecido direito por aqueles dias, parte pelo álcool, parte pela miopia, parte pela preguiça. Mas justo hoje, naquele momento, precisava mover minhas pernas, meus braços, mexer meus quadris. Precisava mover-me daquela cadeira. e sabia que só conseguiria tal feito com muito café na veia para impulsionar meu corpo.

Primeiro senti os dedos do pé. Fiquei feliz em saber que eles ainda estavam por ali. Num susto, já me dei conta de minhas pernas, minhas nádegas pregadas naquela cadeira, meus braços escorados sobre a mesa, consegui ouvir um barulho vindo de meu peito, estava viva, percebi minhas mãos coladas na xícara de café, caminhavam até minha boca e depois voltavam a se apoiar na mesa. e como se tivesse voltado ao meu corpo depois de aprecia-lo abaixo de meus olhos, enxerguei, embora embaçado, a geladeira em minha frente e minha cachorra a me espiar com aqueles olhos molhados e focinho albino, sempre pedindo carinho.

Pela primeira vez notei que tudo era tão branco, o piso branco, o azulejo branco, o fogão branco, a pia branca, o armário branco, a mesa branca, a dudi branca, a toalha de mesa branca, a batedeira branca, a xícara branca, o banquinho branco, a mesa branca. Eu pálida e o café preto, bem preto, amargo, a estalar minha goela, quente, e esquentava meus dedos frios, aquecia meus ânimos e tornava minha íris escura.

Num impulso levantei-me, aquele era o momento, eu pude sentir. Levantei-me num golpe só, sem medo. Confesso que minhas pernas tremeram, afinal não há café neste mundo que me faça recuperar toda a energia que perdi neste mês, mas logo firmei meu corpo ao chão.

No transcol lotado, percebi o porquê de minha recusa de sair de casa. Eu baixinha, ainda inexperiente, me espremendo entre braços, bundas e peitos, me via esticada tentando alcançar a alça no teto. Um braço de cada lado, e meus pés se punham na ponta dos dedos, justo eu que nunca tive vocação pra bailarina. Na curva percebi o valor de um ônibus lotado, pois os tórax ali dispostos e estirados não me deixaram cair e espatifar no chão com a delicadeza de uma jaca. E eu ali com os braços para o alto e as pernas tencionadas me via num impasse de ironia invertida: ressuscitada pelo café e crucificada num navio negreiro pós-moderno.

Trabalho, café, trabalho, café, trabalho, trabalho, café, trabalho, café, trabalho, café, trabalho, café, trabalho, café, trabalho, café, trabalho, trabalho, café, trabalho, café, trabalho, café, trabalho, trabalho, café, café, trabalho, café, trabalho, café, trabalho, café, trabalho, café, trabalho, trabalho, café, café, trabalho, café, trabalho, café, trabalho, café, trabalho, café, trabalho, trabalho, café, trabalho, café, café, café, café, ônibus lotado.

No final da noite, frenética, e por razões lógicas, insônia. Já até encontrei uma categoria que inventei para me enquadrar em alguma coisa, afinal neste mundo não dá pra viver a deriva, temos que nos enquadrar em alguma categoria. A minha: esquisofrenética. Esquiso por parte da insônia e frenética por conta do café.

E mamãe insistia em dizer:
-Quem tomou todo o café?

E eu respondia com os olhos arregalados:
- Você é claro!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O Frio e seus Encantos

Viver é diluir-se, Leila sabia muito bem disso. Sabia que é preciso se dissolver no inesperado, ela sabia que só no desconhecido poderia encontrar, surpreendida, o que deseja. Ela que não sabe o que deseja, só por aquilo que não anseia corre o risco de se encontrar. Ela é como alguém que na procura de vida só procura pessoas. Seus prazeres são compartilhados, sua felicidade só pode ser se for com mais alguém.

Depois de seu rituoso preparo, olhou-se no espelho e deixou-se seduzir por completo pelo frio e saiu de sua aquecida casa com o tom mais vivo de vermelho que possuía nos lábios. Caminhando cambaleante no salto - já havia esquecido como era caminhar em cima daqueles finos saltos - ela foi ao encontro do rapaz que lhe chamara para beber vinho. Conhecera-lhe poucos dias antes e não entendia direito ainda se estava saindo de casa pelo convite do rapaz ou pela sedenta vontade de sentar-se ao sereno da noite na calçada de um bar, sonhando estar em uma calçada de Paris. As calçadas sim eram algo que seguramente lhe agradavam.

O ônibus em que Leila estava parou para recolher passageiros no ponto que se localizava em frente a uma loja de acessórios. Leila prestou atenção para a ostensiva tela que ficava no lugar de maior destaque da loja. Era a imagem de uma mulher pintada e adornada com pomposos acessórios, idênticos aos que estavam expostos na vitrine, que cobria uma parede inteira. Olhando para a pintura Leila reparou que no fundo da loja, sentada atrás de uma solitária mesa, estava a mesma mulher, tão menor que a da pintura pendurada na parede de destaque, com um altivo e ao mesmo tempo perdido olhar. Dispôs-se então, como que para passar o tempo, a tentar entender o que uma mulher que expõe tão soberbamente sua própria pintura estaria sentindo. Seria a amargura que ao brotar em seu intimo a estava envelhecendo? O destino era personagem constante na mente de Leila, ela não cansava de pensar e imaginar como a sucessão dos fatos pode ser surpreendente. Imaginar os pensamentos das pessoas lhe fazia bem, assim ela vivia.

(continua...)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Apresentação

Os dias da semana são sete, sete é o número da sorte, ou do azar e somos sete amigos! E criamos o blog para que cada um de nós poste em um dia da semana, assim as atualizações serão diárias, se ninguém chapar todas no dia anterior e esquecer que é a sua vez de postar, coisa comum por aqui. Afinal a cafeína é para nos manter acordado e a vodca embriagados, por isso Café Russo!

Café Russo é um projeto de um de nossos integrantes de montar um bar café real em que se possa discutir literatura, filmes, arte em geral, política, sexo, sexualidade, bizarrisses, cotidiano, etc. o que vier é lucro! Enquanto o projeto real não sai da imaginação resolvemos cria-lo no mundo virtual mesmo (gasta menos dinheiro, rs)

Bem vindos e
Embriagai-vos, seja de café, de álcool, de literatura, política, sexo, filme...