quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Talvez soe apenas como mais um raquítico lamento pela triste situação nessa cidade, e talvez seja realmente apenas isso, mas é impossivel viver aqui sem passar um dia que seja sem pensar nesse horror urbano. Uma cidade simplesmente não pode planejar toda sua infra-estrutura pensando em receber turistas (o que ainda faz muito mal, a não ser que você possa pagar muito) e reservar à maior parte da sua população a crueza da lei. E uma lei historicamente imposta via crueldade, autoritarismo e indiferença. Avanços foram feitos, soluções têm sido tentadas, mas a lógica tacanha de que "problema social é caso de policia" ainda é válida em grande parte do Rio de Janeiro. A violência policial e a impunidade dos oficiais que deveriam ser responsabilizados pela negligência diante da mesma continua; O secretário de segurança ainda acha o Rio de Janeiro uma cidade maravilhosa e pacífica, porque os indíces de criminalidade nas zonas nobres são comparáveis às de países nórdicos e as favelas (onde se concentra a população pobre do Rio) seriam "bolsões de violência" que não deveriam entrar nos registros. A mesma lógica de Billy The Kid, que, quando perguntado sobre quantos assassinatos cometeu, contabilizava vinte e uma mortes, "sem contar mexicanos". Esses não contam. Favelados não contam. Vagabundos não contam. recentemente, o prefeito Eduardo Paes (que parte da esquerda preferia ao Gabeira) anunciou que estuda um jeito de acabar com o salvador "sopão" servido à população indigente. Por que? Motivos de ordem. Porque um morador da zona sul deve ter reclamado que a fila do sopão ficava no caminho de seu Honda Civic. Nada disso faz sentido. Jogos Olímpicos aqui nao fazem sentido. A Rua da Glória não faz sentido. Beltrame não faz sentido.
O que temos no Rio não é uma guerra. É uma miopia coletiva.

2 comentários:

Natalie disse...

Eu sempre soube, o turismo é nefasto, turista não sente, devora!

...pior, sob os incentivos do estado.

Vinícius Grativol disse...

Muito legal.
Bom conhecer este blog.