segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A propósito do vinho

Baudelaire foi, o quanto pôde, um entusiasta do vinho como o mais instigador dos venenos humanos. Impossível para meu ser não concordar. O sabor único da bebida, a sensação vitoriosa enquanto ele desliza pela garganta agora aquecida, a espera pelo torpor, ela mesmo inebriante... Todos esses elementos transformam o vinho em uma bebida sem par na história. Para nosso poeta, o vinho acompanhou os momentos mais sublimes que puderam ser noticiados. Os tons do vinho colorem o quer que seja tocado por ele. Acredito que o vinho possa ser tratado como uma preferência pessoal, mas o álcool em geral tem esse poder, essa virtude de desvirtuar-nos no momento e na maneira certa, entortando caminhos retos e colocando malícia onde só há convenções. De modo a justificar por exemplos sua paixão pelo vinho, nosso poeta narra um pequeno caso que lhe aconteceu. Numa exposição de arte, defrontou-se com uma pintura horrível, estéril em sua moldura, cercado de imbecis que se compraziam em exaltar a monotonia daquela criação, tão tediosa em sua virtuosidade insípida. Aproximou-se, e procurou saber um pouco mais sobre “o caráter moral do homem que produzira tão criminosa extravagância” (excelente descrição, não acham?). Baudelaire já imaginou que a pessoa seguramente deveria ser “fundamentalmente mau”. Acertou. Dentre os hábitos do infame pintor, ele descobriu que “o monstro se levantava regularmente antes do nascer do dia, que arruinara a sua governanta, e que só bebia leite!”.

Sobriedade faz mal à vida, e a tudo que a faz valer a pena.

(Baudelaire. "Os Paraísos Artificiais".)

Um comentário:

Priscila Milanez disse...

Eu adoro vinho. Acho que é a única bebiba que me eleva a altura de mim mesma.
Saudade de vc!