quinta-feira, 23 de abril de 2009

Quase diário fantasiado pelo alterego ou Diálogo tentando conciliar id e superego

É tudo que eu preciso, um papel, uma caneta e um cigarro. Daí me lembro do aeroporto de São Paulo, e toda aquela nostalgia barata de ter viajado. Aquele sol aquecendo o corpo, nada além do corpo, e eu empenhada em fumar um cigarro, um desejo de um abraço e nada a minha frente (ou tanto concreto que chegava ao nada). Talvez um pouco mais pragmática. A objetividade é extremamente necessária aos loucos que se perdem tão fácil na dura realidade. Restaram lembranças, nada além de lembranças e meu corpo, com aquele cigarro barato que além de nostalgia me provocava náusea. De me empenhar a fumar, foi o que restou das lembranças de saber que sou latina. Latida, latente. Agora vou aprender a cantar. Quem canta não pode ser infeliz. Serei uma a(u)(r)tista completa, me aventurei nas artes práticas, escrita, e agora canto. Só na arte do amor é que me fodo. Mas também não dá pra ter tudo na vida, sou uma boa jogadora de buraco, e sabe como dizem: “sorte no jogo, azar no amor”. Lá se vai mais um com o coração partido. Não, espere! Aquele ali é um espelho. Pra cada dedo indicador apontado, outros três apontam pra você mesmo. É mais fácil amar uma ilusão do que a dura realidade. Sou a desengonçada tentando eternamente ajeitar a vida, não por opção, mas por não saber lidar com o cotidiano dos bancos mercenários, do concerto das máquinas, da burocracia de ser empregada, das monografias desafinadas, e por ter perdido metade da minha memória no meio do caminho (desmesmoriada por genética). Não sou lésbica, não sou puta, não sou drogada, mas por me simpatizar com eles e talvez respeitar tudo isso, acabo me tornando um deles. Deslocada do mundo que exige um pragmatismo que não consigo alcançar por ser desengonçada. Voltando ao aeroporto de São Paulo, tudo se resume ali, naquele sol e eu sozinha esperando algo que não sabia bem o que e como viria. Veio. Veio a vida é claro, inevitável. Estava voltando pra casa de um mês de viajem pela américa latina e tudo voltaria a ser como antes. Ter a liberdade tão desejada por todos não é fácil, carregar a cruz dos outros nunca é fácil, extravasar a loucura dos outros nunca é fácil (mas o mundo precisa de Jesus Cristo). Queria ser normal, já se foi, alguma coisa perverteu meu caminho, acho que ainda na barriga de minha mãe. Não quero ser hedonista, quero respeitar meus limites. Mas no aeroporto de São Paulo eu podia sentir que tudo era possível. E sempre restam lembranças. Não sei acabar este texto, porque a vida continua, e por ser demasiado pessoal, eu continuo a vida, meus amores insensatos, minha constante busca por pragmatismo, minha monografia interminada e eu aqui na fila do banco esperando horas pra ser atendida pra poder pagar minhas dividas. Minha senha chegou, levanto atordoada, catando caneta e papel e procurando meus óculos pra saber qual mesa deveria me dirigir. A moça atrás do balcão me sorri simpática e eu descomposta, meu caso não é tão grave assim. Mas eu agoniada: “fecha tudo moça, encerre todas as minhas contas” – ela ri. Eu definitivamente não sei mexer com isso. Por vezes perco minha caneta em meu cabelo e saio a procurar – “onde está a caneta que estava agora pouco aqui meu deus, me ajuda a procurar” – pra meia hora mais tarde encontrá-la prendendo meus cachos que agora não são mais tão cacheados assim. Tudo bem eu assumo minha culpa, mas tenho pavor de quem não assume a própria culpa, nada mais covarde. E agora eu tenho que carregar minha casa em minha bolsa por ter que passar o dia inteiro resolvendo pepino (quem inventou essa gíria?), mas tudo bem, eu sobrevivo à pão na chapa. Só preciso de um papel, uma caneta (e agora um cigarro) pra reinventar meu mundo.

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