quinta-feira, 5 de março de 2009

Ofiovermelho

A vida está por um fio.
Fio elétrico,
fio de angústia,
fio de prazer, telefônico,
digital.
O computador imita o cérebro
e o fio o coração.
Ontem salvei-me por um fio,
um tiro de raspão.
Uma polícia comunica outra,
que comunica outra,
que comunica outra;
não usam fio,
só o maldito rádio.
O quarteirão está cercado.
Os reféns: você e eu. Nós.
Começa o tiroteio,
VOCÊ MORRE,
eu me salvei pelo triscar de um fio.
A notícia se espalhou.
O equilibrista em cima do fio quase caiu,
quando viu aquele tablóide vil:
EU ESTOU VIVO!
O fio da navalha
corta o céu da boca em tons vermelhos.
Não adianta gritar! Cortei o fio do telefone.
Não há choro que me valha.
O fio umbilical está enrolado no pescoço do meu filho.
SOCORRO!
Minha mulher é um poste,
com a cabeça repleta de fios emaranhados.
O rio caudaloso, d’águabundante
Não passa agora de um fio quase partido
A mulher secou!
A polícia atira filas e fios de chumbo
Meu rosto só sabe escorrer fios d’água vermelha.
Fio de uma grande puta.
Qual títere que corta o fio da confiança
De quem o controla, de quem o manipula,
E foge não deixando nem um fio de poeira,
E foge... e foge... e não faz outra coisa que não seja fugir.
Alucinado qual criança.
Foge pra não precisar admitir que não sabe dançar sozinho.
De que vale um equilibrista sem a altura do fio esticado?
Pronto, o filho morreu.
Você e o filho estamortos
E se mortos, estáticos.
Paralisados de um furor nunca visto,
Mostram vísceras imensas.
Se ontem me salvei
É porque os intrépidos estão mortos.
Fio de repente um tapete mágico,
Com fios de diamante macio,
Para que os fortes limpem seus sapatos.
A lâmina é sutil até o ponto
Onde o fio nem é tão afiado assim.
Se ontem me salvei
É porque não há consenso,
Não há fio que valha o estupor,
Não há lágrima que valha o choro,
Todo fio tem seu fim
Todo fio tem seu início,
No começo mesmo do mundo
Onde as vozes’inda não ecoavam
Onde o fio nem era tão afiado assim.
Não há fio contínuo
Nem tão pouco separado.
A própria contra-mola é um fio retorcido
Que resiste à força de ser reto
No anteparo obliquo
Que separa por um fio
O presente do futuro.
é sobre seu imenso corpo
que escorre o fio do azeite
e rodelas de cebolas, um ornamento
lá no local onde se fia
exatamente o fiador.


Foi isso! Retirava dos dentes o fiapo
Enquanto assistia traquilamente
A tv do fiasco.

Autor desconhecido.

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